Cronologia

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By Bernd Sebastian Kamps

Tradução: Joana Catarina Ferreira Da Silva

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Quinta-feira, 12 de dezembro

Em Wuhan, as autoridades de saúde começam a investigar pacientes com pneumonia viral. Eventualmente, descobrem que a maioria dos pacientes tinham, em comum, visitado o Mercado de Retalho de Marisco de Huanan. O mercado é conhecido por ser um centro de venda de aves, morcegos, cobras e outros animais selvagens.

Segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

No final de dezembro, Li Wenliang (en.wikipedia.org/wiki/Li_Wenliang), oftalmologista de 34 anos de Wuhan, publica uma mensagem no grupo de WeChat a alertar os colegas médicos sobre uma nova doença de coronavírus no seu hospital. Ele escreve que sete doentes têm sintomas semelhantes à SARS e que estão em quarentena. Li pede aos seus amigos para que informem as suas famílias e aconselha aos seus colegas o uso de equipamentos de proteção.

Terça-feira, 31 de dezembro de 2019

A polícia de Wuhan anuncia que estão a investigar oito pessoas por difamação sobre um novo surto de doenças infeciosas (ver 30 de dezembro).

A Comissão Municipal de Saúde de Wuhan relata casos de 27 doentes com pneumonia viral e história prévia de exposição ao Mercado de Retalho de Marisco de Huanan. Sete doentes estão em estado crítico. As manifestações clínicas dos casos foram, principalmente, febre, alguns doentes tinham dificuldade respiratória e as radiografias de tórax mostravam lesões infiltrativas pulmonares bilaterais. O relatório diz que a “doença é evitável e controlável”. A OMS é informada.

Quinta-feira, 1 de janeiro

O Mercado de Retalho de Marisco de Huanan é encerrado.

Sexta-feira, 3 de janeiro

Em Wuhan, Li Wenliang é convocado a um departamento de segurança pública local por “espalhar falsos boatos”. Ele é forçado a assinar um documento em que admite ter feito “comentários falsos” e “perturbado a ordem social”. Li assina uma declaração a concordar em omitir a patologia.

Na rede social Weibo, a polícia de Wuhan afirma que tomou medidas legais contra as pessoas que “publicaram e partilharam rumores online”, “que causam um impacto negativo na sociedade”. No dia seguinte, as informações são apoderadas pela CCTV, a televisão estatal. A CCTV não especifica que os oito suspeitos acusadas de “espalhar falsos boatos” são médicos.

Domingo, 5 de janeiro

A OMS alerta que 44 doentes com pneumonia de etiologia desconhecida foram notificados pelas autoridades nacionais na China. Dos 44 casos relatados, 11 estão em estado grave, ao passo que os restantes 33 doentes encontram-se clinicamente estáveis. https://www.who.int/csr/don/05-january-2020-pneumonia-of-unkown-cause-china/en/

Terça-feira, 7 de janeiro

As autoridades chinesas anunciam que identificaram um novo coronavírus (CoV) nos doentes em Wuhan (pré-publicado 17 dias mais tarde: https://doi.org/10.1056/NEJMoa2001017). Os coronavírus são um grupo de vírus que causam doenças em mamíferos e aves. No ser humano, os coronavírus mais comuns (HCoV-229E, -NL63, -OC43 e -HKU1) circulam continuamente na população; causam constipações, por vezes associadas a febre e dor de garganta, nomeadamente no inverno e no início da primavera. Estes vírus são transmitidos pelo contacto de partículas produzidas por pessoas infetadas aquando da tosse ou espirro, ou ao tocar na face com as mãos após ter manipulado superfícies onde haja essas partículas.

Domingo, 12 de janeiro

A sequência genética do novo coronavírus é disponibilizada à OMS. Laboratórios de diferentes países começam a produzir testes de diagnóstico específicos por PCR. (O governo chinês relata que não há evidências claras de que o vírus é facilmente transmissível.)

Dois dias após o início da tosse, Li Wenliang (ver 30 de dezembro) é hospitalizado. À posteriori, ele é diagnosticado com COVID.

Segunda-feira, 13 de janeiro

A Tailândia notifica o primeiro caso fora da China, uma mulher que tinha viajado de Wuhan. Japão, Nepal, França, Austrália, Malásia, Singapura, Coreia do Sul, Vietname, Taiwan, e Tailândia relatam casos nos 10 dias seguintes.

Sábado, 18 de janeiro

A revista médica bibliográfica Amedeo (www.amedeo.com) atrai atenção de mais de 50.000 subscritores de um artigo da instituição Imperial College London, Estimating the potential total number of novel Coronavirus cases in Wuhan City, China, por Imai et al. Os autores do artigo estimam “um total de 1.723 casos de 2019-nCoV (IC 95%: 427 – 4.471) com início dos sintomas até 12 de janeiro de 2020, na cidade de Wuhan”. No entanto, oficialmente, apenas 41 casos tinham sido notificados até 16 de janeiro.

Segunda-feira, 20 de janeiro

A China regista três mortes e mais de 200 pessoas afetadas. Os casos são agora diagnosticados fora da província de Hubei (Bei-jing, Xangai e Shenzhen). Os países asiáticos introduzem exames obrigatórios nos aeroportos de todas as chegadas vindas de áreas de alto risco da China.

Quinta-feira, 23 de janeiro

Numa atitude ousada e sem precedentes, o governo chinês obriga dezenas de milhões de pessoas a cumprir quarentena. Nunca nada comparável foi feito na história da humanidade. E ainda ninguém sabe o quão eficiente será.

Todos os eventos do Ano Novo Lunar (com início a 25 de janeiro) são cancelados.

A OMS declara que o surto ainda não constitui uma emergência pública de interesse internacional, uma vez que “não há evidência” do vírus se espalhar fora da China.

Sexta-feira, 24 de janeiro

Pelo menos, 830 casos foram diagnosticados em nove países: China, Japão, Tailândia, Coreia do Sul, Singapura, Vietname, Taiwan, Nepal e Estados Unidos.

Zhu et al. publicam o seu relatório face ao isolamento de um novo coronavírus diferente do MERS-CoV e do SARS-CoV (texto integral: https://doi.org/10.1056/NEJMoa2001017). Eles descrevem testes sensíveis para detetar RNA viral em amostras clínicas.

Wang et al. publicam a caracterização clínica de 41 doentes (texto completo: doi.org/10.1016/S0140-6736(20)30185-9).

Chan et al. descrevem um cluster familiar de pneumonia associado ao novo coronavírus de 2019, indicando transmissão de pessoa para pessoa (texto completo: doi.org/10.1016/S0140-6736(20)30154-9).

Sábado, 25 de janeiro

O governo chinês impõe restrições de viagem em mais cidades em Hubei. O número total de pessoas afetadas pelas medidas de contenção de quarentena é de 56 milhões.

Hong Kong declara emergência. As celebrações do Ano Novo são canceladas e as ligações para a China continental são restritas.

Quinta-feira, 30 de janeiro

A OMS declara o coronavírus uma emergência internacional. Enquanto isso, a China regista 7.711 casos e 170 mortes. O vírus agora espalhou-se para todas as províncias chinesas.

Sexta-feira, 31 de janeiro

Li Wenliang publica nas redes sociais a sua experiência no posto de polícia de Wuhan (veja 3 de janeiro) e a carta de advertência que lhe foi dada. A sua publicação torna-se viral.

Índia, Filipinas, Rússia, Espanha, Suécia, Reino Unido, Austrália, Canadá, Japão, EUA e Emirados Árabes Unidos confirmam os seus primeiros casos.

Domingo, 2 de fevereiro

A primeira morte fora da China, de um chinês de Wuhan, é relatada nas Filipinas. Dois dias depois, uma morte é reportada em Hong Kong.

Quinta-feira, 6 de fevereiro

Li Wenliang, que foi punido por tentar alertar sobre o coronavírus, morre. A sua morte provoca uma onda de raiva, pesar e exigências pela liberdade de expressão: https://www.theguardian.com/global-development/2020/feb/07/coronavirus-chinese-rage-death-whistleblower-doctor-li-wenliang.

Sexta-feira, 7 de fevereiro

Hong Kong introduz penas de prisão para quem infringir o regulamento de quarentena.

Segunda-feira, 10 de fevereiro

A Amedeo lança um serviço semanal de literatura bibliográfica sobre Coronavírus que mais tarde seria chamado Amedeo Covid-19

Terça-feira, 11 de fevereiro

Em menos de três semanas após a introdução de medidas de contenção em massa na China, o número de casos relatados começa a diminuir gradualmente.

A OMS anuncia que a nova doença infeciosa seria chamada COVID-19 (doença de Coronavírus 2019).

Quarta-feira, 12 de fevereiro

A bordo do navio Diamond Princess atracado em Yokohama, Japão, cerca de 175 pessoas estão infetadas com o vírus. Nos dias e semanas seguintes, quase 700 pessoas são infetadas a bordo.

Quarta-feira, 19 de fevereiro

O Irão relata duas mortes pelo coronavírus.

No estádio de San Siro, em Milão, a equipa de futebol Atalanta de Bérgamo vence a Liga dos Campeões contra o Valência por 4 a 1, diante de 44.000 adeptos de Itália e de Espanha. O transporte de massa de Bérgamo para Milão e o seu regresso, horas de gritos e as seguintes celebrações em inúmeros bares foram considerados por alguns observadores como uma “bomba biológica” de coronavírus.

Quinta-feira, 20 de fevereiro

Um doente de 30 anos internado na unidade de cuidados intensivos (UCI) do Hospital Codogno (Lodi, Lombardia, Itália) testou positivo para SARS-CoV-2. Nas próximas 24 horas, o número de casos relatados aumentaria para 36, ​​sem ligações com o doente ou casos positivos identificados anteriormente. É o começo da epidemia italiana. jamanetwork.com/journals/jama/fullarticle/2763188

Domingo, 23 de fevereiro

O Carnaval de Veneza é encerrado e os eventos desportivos são suspensos nas regiões italianas mais afetadas.

Segunda-feira, 24 de fevereiro

Bahrain, Iraque, Kuwait, Afeganistão e Omã relatam os seus primeiros casos.

Terça-feira, 25 de fevereiro

Um relatório de uma missão conjunta de 25 especialistas internacionais e chineses é apresentado ao público. Os mesmos viajaram para diferentes províncias chinesas. As descobertas mais importantes são que a epidemia chinesa atingiu o pico e o plateau entre os dias 23 de janeiro e 2 de fevereiro, e diminuiu constantemente a partir de então.

https://www.who.int/publications-detail/report-of-the-who-china-joint-mission-on-coronavirus-disease-2019-(covid-19)

 

Figura 1. Casos de Covid-19 na China, janeiro / fevereiro de 2020. Curvas epidemiológicas por início dos sintomas e data do relatório em 20 de fevereiro de 2020 para casos de COVID-19 confirmados em laboratório para toda a China. Modificado a partir do Relatório da Missão Conjunta OMS-China sobre Doença de Coronavírus 2019 (COVID-19). 16-24 de fevereiro de 2020. https://www.who.int/publications-detail/report-of-the-who-china-joint-mission-on-coronavirus-disease-2019-(covid-19)

 

Esta foi a primeira prova de que as medidas restritivas de quarentena implementadas pelo governo chinês eram a decisão certa a fazer. Infelizmente, os países europeus que não sofreram a epidemia de SARS em 2003 perderiam tempo antes de seguir o exemplo chinês.

Nas 24 horas seguintes, Noruega, Dinamarca, Holanda, Irlanda do Norte, Estónia, Roménia, Grécia, Georgia, Paquistão, Macedónia do Norte e Brasil relatam os primeiros casos.

Quarta-feira, 26 de fevereiro

Um presidente, ao temer pela sua oportunidade de ser reeleito, minimiza a ameaça da pandemia de coronavírus, dizendo: “Notícias falsas de baixa classificação. . . estão a fazer tudo o que é possível para que o Coronavírus pareça péssimo, incluindo aterrorizar o mercado, se possível.” https://www.bmj.com/content/368/bmj.m941

Dois dias depois, o mesmo indivíduo invoca magia: “Isto vai desaparecer. Um dia, será como um milagre, desaparecerá. “

Sexta-feira, 28 de fevereiro

Uma rápida análise aos casos europeus diagnosticados fora de Itália de 24 a 27 de fevereiro revela que 31 de 54 pessoas afetadas (57%) tinham viajado recentemente para o norte de Itália. Os epidemiologistas percebem imediatamente que uma situação incomum está a ocorrer e informam o governo italiano.

Sábado, 7 de março

Dados oficiais mostram que as exportações da China caíram 17,2% nos dois primeiros meses do ano.

Domingo, 8 de março

Itália impõe uma quarentena rigorosa a 16 milhões de pessoas no estado da Lombardia e a 14 outras áreas no Norte.

Segunda-feira, 9 de março

Itália estende medidas restritas de quarentena a 60 milhões de pessoas de todo o país. Declara o território italiano uma “zona de segurança” com medidas restritas de quarentena. Todas as pessoas são instruídas a ficar em casa, a menos que precisem sair por “razões válidas para o trabalho ou a família”. As escolas são fechadas.

O Irão liberta 70.000 prisioneiros por causa do surto de coronavírus no país.

Terça-feira, 10 de março

Xi Jinping percorre a cidade de Wuhan e declara uma vitória provisória na batalha contra a COVID-19. Os últimos dois dos 16 hospitais temporários da cidade estão fechados.

Quarta-feira, 11 de março

A OMS declara o surto de coronavírus uma pandemia.

Em Madrid e nos arredores, todas as escolas, de jardins de infância a universidades, ficam fechados por duas semanas.

Quinta-feira, 12 de março

Itália fecha todas as lojas, exceto supermercados e farmácias.

Em Espanha, 70.000 pessoas em Igualada (região de Barcelona) e três outros municípios estão em quarentena por, pelo menos, 14 dias. É a primeira vez que Espanha adota medidas de isolamento para municípios inteiros.

Emmanuel Macron, presidente francês, anuncia o fecho de creches, escolas e universidades a partir de segunda-feira, 16 de março. Ele declara: “Um princípio que nos guia a definir as nossas ações, que nos guia desde o início a antecipar esta crise e depois geri-la por várias semanas, e que deve continuar a fazê-lo: é a confiança na ciência. É ouvir quem sabe.” Alguns dos seus colegas deveriam ter ouvido também.

Sexta-feira, 13 de março

O primeiro ministro de um país ex-UE introduz a noção de “imunidade de rebanho” como uma solução para futuros episódios repetidos de epidemias de coronavírus. O tratamento de choque: aceitar que 60% da população contrai o vírus, desenvolvendo uma imunidade coletiva e evitando futuras epidemias de coronavírus. Os números são terríveis. Com pouco mais de 66 milhões de habitantes, cerca de 40 milhões de pessoas seriam infetadas, 4 a 6 milhões ficariam gravemente doentes e 2 milhões exigiriam cuidados intensivos. Cerca de 400.000 britânicos morreriam. O primeiro-ministro projeta que “muito mais famílias vão perder entes queridos antes do tempo”.

Sábado, 14 de março

O governo espanhol encerra todo o país, pedindo a todas as pessoas que fiquem em casa. As exceções incluem aquisição de alimentos ou fármacos, ir ao hospital, trabalho ou outras emergências.

O governo francês anuncia o encerramento de todos os locais públicos “não essenciais” (bares, restaurantes, cafés, cinemas, discotecas) após a meia-noite. Apenas lojas de alimentação, farmácias, bancos, tabacarias e postos de gasolina podem permanecer abertos.

Domingo, 15 de março

França invoca 47 milhões de eleitores para a votação. Os líderes do governo e da oposição parecem ser a favor da manutenção das eleições municipais. Será este um exemplo inaceitável de intervenção da política partidária na gestão de uma epidemia mortal? Futuros historiadores terão de investigar.

Segunda-feira, 16 de março

Ferguson et al. publicam um novo estudo de modelo relativo aos prováveis ​​resultados do Reino Unido e dos EUA durante a pandemia da COVID-19. Na (improvável) ausência de quaisquer medidas de controlo ou mudanças espontâneas no comportamento individual, os autores esperam que ocorra um pico de mortalidade (mortes diárias) após, aproximadamente, 3 meses. Isso resultaria em 81% da população dos EUA, cerca de 264 milhões de pessoas, contraindo a doença. Desses, 2.2 milhões morreriam, incluindo 4% a 8% dos americanos com mais de 70 anos. Mais importante, na segunda semana de abril, a procura por acesso aos cuidados intensivos seria 30 vezes superior à oferta.

 

Figure 2. Impacto de intervenções não farmacológicas (NPIS) na redução da mortalidade e procura de cuidados de saúde devido à COVID-19. (de Ferguson et al.)

 

O modelo analisa duas abordagens: mitigação e supressão. No cenário de mitigação, o SARS-CoV-2 continua a espalhar-se a uma taxa lenta, a fim de evitar a quebra dos sistemas hospitalares. No cenário de supressão, medidas extremas de distanciamento social e quarentena doméstica impediriam a propagação do vírus. O estudo também oferece uma perspetiva quando as medidas rígidas de “Fique em casa” são levantadas. A perspetiva é sombria: epidemia.

A França impõe medidas de quarentena.

Terça-feira, 17 de março

Sete milhões de pessoas em toda a área da baía de São Francisco são instruídas a “abrigar-se” e são proibidas de deixar as suas casas, exceto para “atividades essenciais” (compra de alimentos, fármacos e outras necessidades). A maioria das empresas são fechadas. As exceções: supermercados, farmácias, restaurantes (apenas takeaway), hospitais, postos de gasolina, bancos.

Quarta-feira, 18 de março

Um estudo de Wang J, et al. sugere que altas temperaturas e alta humidade relativa podem reduzir a transmissão da COVID-19. Será que o verão e a estação das chuvas no hemisfério norte alterarão o curso da epidemia de coronavírus?

Quinta-feira, 19 de março

Pela primeira vez, desde o início do surto de coronavírus, não foram registados novos casos em Wuhan e na província de Hubei.

O governador californiano Gavin Newsom ordena que toda a população da Califórnia (40 milhões de pessoas) “fique em casa”. Os residentes só podem deixar as suas casas para atender às necessidades básicas, como comprar comida, ir à farmácia ou ao médico, visitar familiares, exercitar-se.

Sexta-feira, 20 de março

Itália regista 6.000 novos casos e 627 mortes em 24 horas.

Em Espanha, o confinamento devido ao coronavírus reduz o crime em 50%.

A China não relata novos casos locais de coronavírus por três dias consecutivos. As restrições são atenuadas, a vida normal retoma. O mundo inteiro olha agora para a China. O vírus espalhar-se-á novamente?

O estado de Nova Iorque, agora centro da epidemia dos EUA (população: 20 milhões), declara quarentena geral. No domingo à noite (22 de março), as pessoas devem sair de casa apenas para comida, medicamentos e fazer exercícios ao ar livre. Os negócios essenciais (mercearias, restaurantes com comida takeaway, farmácias e lavandarias) permanecerão abertos. Lojas de bebidas? Negócio essencial!

Segunda-feira, 23 de março

Finalmente, tarde demais para muitos observadores, o Reino Unido implementa medidas de contenção. Estas são menos rigorosos do que as de Itália, Espanha e França.

A chanceler alemã Ângela Merkel autocolocou-se em quarentena depois de entrar em contacto com uma pessoa que testou positivo para o coronavírus.

Terça-feira, 24 de março

De todos os casos relatados em Espanha, 12% estão entre os profissionais de saúde.

Os Jogos Olímpicos de Tóquio são adiados até 2021.

A Índia ordena um confinamento nacional. Globalmente, três mil milhões de pessoas estão agora confinadas.

Quarta-feira, 25 de março

Após semanas de medidas rigorosas de contenção, as autoridades chinesas levantam as restrições de viagem na província de Hubei. Para viajar, os residentes precisarão do “Código Verde” fornecido por um sistema de monitorização que usa o aplicativo AliPay.

Uma jovem de 16 anos morre no sul de Paris de COVID-19. Ela não tinha doenças anteriores.

Quinta-feira, 26 de março

Os EUA agora são o país mais casos de coronavírus conhecidos no mundo.

O SARS-CoV-2 está a espalhar-se a bordo do porta-aviões USS Theodore Roosevelt.

Por medo de reativar a epidemia, a China proíbe a maioria dos estrangeiros de entrar no país.

Sexta-feira, 27 de março

O Primeiro Ministro e o Ministério da Saúde de um país ex-UE testam positivo para coronavírus.

A Lancet publica COVID-19 and the NHS—”a national scandal”

Um artigo de McMichael et al. descreve uma taxa de mortalidade de 33% de casos para residentes infetados com SARS-CoV-2 de uma instituição de cuidados continuados em King County, Washington, EUA.

Domingo, 29 de março

O Guardian publica um artigo que pergunta se os negadores do coronavírus dos EUA têm sangue nas suas mãos. A epidemia de SARS-CoV-2 é a pior falha de inteligência da história dos EUA.

Segunda-feira, 30 de março

A equipa de resposta à COVID-19 Flaxman S et al. do Imperial College publicou novos dados relativos ao verdadeiro número de pessoas infetadas nos 11 países europeus. O seu modelo sugere que até 28 de março, em Espanha e Itália, cerca de 5.9 milhões e 7 milhões de pessoas poderiam estar potencialmente infetadas, respetivamente (ver tabela online). Alemanha, Áustria, Dinamarca e Noruega têm o menor número de casos de infeção (de acordo com a proporção da população infetada). Estes dados sugerem que a mortalidade pela infeção COVID-19 em Itália possa estar na faixa dos 0.4% (0.16% – 1.2%). Encontre mais detalhes em Epidemiologia – A Pandemia – Europa (página 36).

Moscovo, Lagos (21 milhões de habitantes) estão em confinamento.

A crise da COVID-19 provoca alguns líderes políticos do Este Europeu a considerar a legislação de lhes dar poderes extraordinários. Num caso, a lei foi estendida a estado de emergência indefinido.

Quarta-feira, 1 de abril

O chefe das Nações Unidas alerta que a pandemia do coronavírus representa a “pior crise” mundial desde a II Guerra Mundial.

Quinta-feira, 2 de abril

Mundialmente, são reportados mais de 1 milhão de casos. O verdadeiro número é provavelmente muito maior (ver o artigo do Flaxman em 30 de março).

Todos os jornais europeus relatam artigos relativos à razão de a Alemanha ter tido tão poucos casos de COVID-19.

Sexta-feira, 3 de abril

Alguns economistas avisam que o desemprego possa ultrapassar os níveis atingidos durante a Grande Depressão de 1930. As boas notícias: Quase todos os governos salvam milhares ou centenas de milhares de vidas em vez de evitar uma recessão económica massiva. Será que a humanidade se tornou mais humana?

Le Monde, o jornal francês mais influente, aponta pontos mais mundanos dos efeitos adversos da epidemia. Os cabeleireiros estão proibidos de trabalhar, cores e cortes estão a degradar. O jornal prevê que “depois de 2 meses, 90% dos loiros irão desaparecer da face da Terra”.

Sábado, 4 de abril

Na Europa, existem sinais de esperança. Em Itália, o número de pessoas tratadas nas Unidades de Cuidados Intensivos diminui pela primeira vez desde o início da epidemia.

 

Figura 3. Doentes tratados nas Unidades de Cuidados Intensivos em Itália. Pela primeira vez desde o início da epidemia, o número decresceu a 4 de abril. Fonte: Le Monde

 

Em França, 6.800 doentes estão a ser tratados nas Unidades de Cuidados Intensivos. Mais de 500 destes doentes foram evacuados para os hospitais de centros de epidemia como Alsace e a Grande área de Paris para regiões com casos de febre por COVID-19. Foram utilizados comboios de alta velocidade TGV e aeronaves especialmente adaptados.

Lombardia decide que no domingo, dia 5 de abril, as pessoas devem usar máscaras ou cachecóis. Os supermercados devem ceder luvas e gel hidro-alcoólico aos clientes. Na Catalunha também a 3 de abril.

Um político italiano, pouco consciente dos princípios científicos em par de igualdade com os colegas dos EUA e do Brasil, pediu às igrejas para abrirem na Páscoa (12 de abril), ao declarar que “a ciência sozinha não é suficiente: o bom Deus também é necessário”. Heureux les simples d’esprit, como os franceses diriam.

Em Itália, 80 médicos morreram de COVID. 3.944 trabalhadores hospitalares infetados a partir de sábado, 4 de abril.

Domingo, 5 de abril

A Suécia é um dos últimos países na Europa a manter uma abordagem ligeira no combate à epidemia. Como consequência, a taxa de mortalidade é mais alta que a da Noruega e Dinamarca. Agora, espera-se que o país se endireite e limite os encontros públicos, encerre os transportes e fecho lojas e restaurantes.

Um cirurgião geral dos EUA alerta que o país vai enfrentar um “momento de Pearl Harbor” na próxima semana.

Os EUA são o novo epicentro da epidemia por COVID-19. No momento da escrita deste texto (5 de abril), mais de 300 000 casos e cerca de 10 000 mortes foram reportados. Cerca de metade dos casos reportados foram de Nova Iorque e Nova Jérsia.